Um grupo de militares do Exército da Guiné-Bissau anunciou, na quarta-feira, que tomou o controle do país, um dia antes da divulgação dos resultados de uma eleição presidencial que gerou polêmica e alegações de fraudes.
Em um pronunciamento transmitido pela televisão estatal, o porta-voz do grupo militar, Diniz N’Tchama, informou que o presidente Umaro Sissoco Embaló foi deposto, que o processo eleitoral havia sido suspenso e que as fronteiras do país estavam fechadas. Também foi estabelecido um toque de recolher. O paradeiro de Embaló é desconhecido, e não ficou claro se ele foi preso.
Os militares formaram um grupo chamado “Alto Comando Militar pela Restauração da Ordem” e afirmaram que permanecerão no poder até que novas ordens sejam dadas. O golpe acontece em um momento de grande tensão no país, que é uma ex-colônia portuguesa e estratégico para o tráfico de cocaína que vem da América do Sul.
Ainda não se sabe se a ação dos militares conta com o apoio de todas as forças armadas da Guiné-Bissau, que possui cerca de 2 milhões de habitantes. No comunicado, os militares alegaram que a decisão de assumir o comando se deu em resposta a um “plano de desestabilização” orquestrado por certos políticos nacionais e traficantes de drogas.
Antes do anúncio da tomada de poder, foram registrados disparos perto da sede da comissão eleitoral, do palácio presidencial e do ministério do Interior, segundo relatos de testemunhas. O tiroteio durou cerca de uma hora, mas não há confirmações de feridos.
A comissão eleitoral estava programada para divulgar os resultados provisórios da eleição, que ocorreu no domingo, quando Embaló competiu com o principal adversário, Fernando Dias. Ambos os candidatos afirmaram ter vencido no primeiro turno. Embaló buscava ser o primeiro presidente em três décadas a conquistar um segundo mandato consecutivo.
A situação se agravou quando um porta-voz de Embaló, Antonio Yaya Seidy, alegou que homens armados atacaram a comissão eleitoral para impedir a divulgação dos resultados, insinuando que os agressores estariam ligados a Fernando Dias, o que não foi confirmado por um representante do rival político. Dias estava realizando uma reunião com observadores eleitorais quando soube dos disparos e assegurou que estava seguro.
O governo português se manifestou pedindo a fim da violência em Guiné-Bissau e a retomada do processo eleitoral, fazendo um apelo para que todas as partes envolvidas respeitem as instituições do país e permitam a conclusão da contagem e divulgação dos resultados.
A Guiné-Bissau tem um histórico complicado em relação a golpes de Estado, tendo sofrido pelo menos nove desde a sua independência de Portugal em 1974. Embaló, que assumiu a presidência em 2020, afirma que sobreviveu a três tentativas de deposição durante seu governo e é criticado por opositores que o acusam de criar crises para justificar repressão.
Tiros foram ouvidos em várias ocasiões durante o governo de Embaló, incluindo um episódio em dezembro de 2023 que foi declarado um golpe frustrado pela administração. Desde então, o Parlamento está sem funcionamento regular devido a uma dissolução promovida pelo presidente.
A instabilidade no país está ligada também ao crescimento do tráfico de drogas, que, segundo um relatório recente, pode estar mais lucrativo do que nunca. Em uma apreensão significativa em setembro de 2024, a polícia judiciária confiscou 2,63 toneladas de cocaína em um avião que pousou em Bissau, prendendo um brasileiro e outros quatro latino-americanos no processo.